Em entrevista ao ConJur, durante X Fórum Jurídico de Lisboa, a advogada Cecilia Mello analisa os espaços ocupados pelas mulheres no Direito.

“Fazendo uma análise da mulher no Direito, do momento atual, onde estamos e para onde iremos, é um pouco frustrante nesse governo. Porque a nossa posição, embora tenhamos alcançado inúmeros postos, não são postos de chefia, de dirigentes. As mulheres tem, hoje, uma postura de defesa, de tentar garantir que aquilo que já foi conquistado não seja estremecido pelos valores que esse governo implementa.

O que precisamos é ter novas expectativas, parar com esse comportamento de defesa, de medo de perder o que se conquistou. E isso só vai acontecer com uma mudança política.

Em relação à igualdade de ocupação dos espaços de poder dentro do Direito, é importante lembrar que igualdade de direitos não significado igualdade de oportunidades.

A mulher precisa de condições para chegar nesses postos. Ela acumula toda a parte do cuidado da família. De um modo geral, é ela que arca com isso. Institucionalmente, historicamente, esse dever é atribuído a ela.

Então, quando vamos fazer uma medição de tempo, vemos que as mulheres trabalham menos que os homens, no trabalho produtivo, mas trabalham muito mais do que os homens quando se soma o trabalho reprodutivo. Isso é um obstáculo porque à medida que existe esse encargo a mulher não consegue estudar e trabalhar tanto quanto os homens, e, por isso, também não consegue ascender tanto quanto os homens.

Esse é um lado. O outro lado é a necessidade da mulher ser recepcionada dentro dos contextos de trabalho. Dentro dos tribunais temos pouquíssimas ministras, no Supremo, no STJ, pouquíssimas desembargadoras, principalmente nas justiças estaduais. Embora tenhamos muitas advogadas, temos poucas advogadas sócias e dirigentes de grandes escritórios. É um binômio de fatores. Precisamos possibilitar que a mulher ascenda no mercado de trabalho, e ela precisa também ser recepcionada nesses contextos.”

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